Cinco mil estudantes em Ilhéus ainda não iniciaram ano letivo, revela Appi

Área pobre e sem aula. No destaque, a escola pronta e sem professores
JBO

 

Faltando pouco mais de um mês para o término do semetre letivo na maioria das escolas brasileiras, em Ilhéus, há, pelo menos, cinco mil estudantes que ainda não souberam, este ano, o que é ter uma única aula. Por telefone, a secretária de Educação, Marlúcia Rocha, disse ao Jornal Bahia Online que não tem números fechados sobre a quantidade de estudantes fora das salas. Mas a presidente da Associação dos Professores Profissionais de Ilhéus (Appi), Enilda Mendonça, estima que dos 22 mil estudantes matriculados, haja, pelo menos, cinco mil, aguardando em casa, pela contratação de professores.

Na escola Heitor Dias, por exemplo, 14 turmas ainda estão sem iniciar o ano letivo. De acordo com Marlúcia Rocha, o problema está prestes a ser resolvido. Na sexta-feira foi publicada no Diário Oficial a lista de uma seleção simplificada para contratação de professores. Hoje o município conta com 1.200 que atendem a 65 escolas da rede, na cidade e no campo, e está disposto a contratar mais 150 para resolver o impasse. O que preocupa os professores é o fato de, numa mesma escola, algumas turmas estarem “adiantadas” e outras sem sequer o primeiro dia de aula. “Estas turmas terão reposição, terão aula, inclusive, nos finais de semana”, anunciou a secretária.

“O ano letivo já está comprometido”, lamenta Enilda Mendonça. “É grave. Nenhuma escola do município está funcionando 100 por cento”, revela. O ano letivo começou oficialmente em Ilhéus no dia 21 de fevereiro. Há portanto, na maioria das escolas, 60 dias de atraso nas aulas. Situação ainda mais preocupante está nas escolas da zona rural e nas conveniadas. Em Inema e Banco Central, por exemplo, há professores, há alunos, há escolas. Mas as aulas estão sem acontecer, segundo a Appi, porque não há vale transporte para os professores se deslocarem até o seu local de trabalho.

Para uma viagem até Inema, por exemplo, o professor teria que desembolsar, diariamente, algo em torno de 35 reais, ida e volta, no transporte coletivo. Uma fonte ouvida pelo Jornal Bahia Online garante que, com o corte do vale transporte, professores estão dispostos a protestar e cumprir a carga horária dentro da Secretaria de Educação. “Há boa vontade, acredite. Não condições de bancar isso”, ressalta Enilda Mendonça.

Uma das duas escolas situadas na avenida Esperança, uma região habitada por pessoas de baixo poder aquisitivo, ainda não teve, sequer, uma aula este ano. Estão matriculadas no Centro de Convivência Pastor Severino Soares, 136 crianças carentes, com idade entre 3 e 5 anos. A instituição é bancada pela Associação Beneficente da Assembléia de Deus (Abade). Caberia à prefeitura enviar apenas oito professores (dois para cada turma). Sem a ajuda, a escola permanece fechada.

A vice-diretora Lucinéia Costa mantém o otimismo. “Com a divulgação do resultado da seleção simplificada, as aulas devem começar”, afirma. Situada numa região pobre do bairro, ela confirma que a escola é um apoio às famílias carentes. “A grande maioria deixa os filhos aqui e sai para trabalhar”, admite. Muitos país vão todos os dias à escola em busca de informação sobre o início das aulas. Voltam sempre sem uma boa notícia.

Uma especialista em educação infantil ouvida pelo JBO, e que pediu anonimato, garante que prejuízos como estes jamais serão recuperados. “Tirar um atraso de 60 dias de aula em um ano letivo é sempre preocupante e muito prejudicial ao aprendizado”, afirma. Nos últimos anos, as paralisações na rede municipal de ensino têm sido muito frequentes. Os motivos são sempre os mesmos: falta de merenda, falta de professor ou luta por reposição salarial. Ou os três juntos.

O fato é que, em função destes constantes “hiatos” no aprendizado, muitos alunos desistem de concluir o ano. Outros perdem o estímulo. A maioria não aprende como deveria aprender. Isso numa cidade onde tem crescido assustadoramente o número de viciados em drogas e as estatisticas revelam que a maioria dos jovens assassinados não tem, sequer, o ensino médio.